Segunda, 06 Dezembro 2021 00:35

OFS e o Espelho da Perfeição: reflexão sobre o capítulo XIV

Capítulo XIV

 

A maldição do dinheiro e como puniu um frade que tocou o dinheiro

 

1 Verdadeiro amigo e imitador de Cristo, Francisco, despreza­ndo perfeitamente todas as coisas do mundo (cf. 1Cor 7,33), exe­crava sobretudo o dinheiro; pela palavra e pelo exemplo, levou seus frades a fugir dele como do demônio. Ensinava aos frades a esperteza de dar o mesmo valor ao esterco e ao dinheiro.

3 Um dia, aconteceu (cf. Gn 39,11) que um secular entrou na igreja de Santa Maria da Porciúncula para rezar e, para dar uma esmola, pôs uma moeda junto à cruz. Assim que ele se retirou, com simplicidade, um frade a tomou na mão e a colocou numa janela. 4 Quan­do o fato foi relatado ao bem-aventurado Francisco, vendo-se descoberto, o frade imediatamente pediu perdão e, prostrado por terra, ofereceu-se às chicotadas. 5 O santo censurou-o e repreen­deu duramente por ter tocado o dinheiro e mandou que o retirasse da janela com a boca, que o levasse para fora da sebe do lugar e, com a própria boca, o colocasse sobre o esterco de um asno.

6 Enquanto o frade executava com gratidão o que lhe fora orde­nado, todos os que viram ou ouviram foram tomados de grande temor e, daí em diante, desprezaram ainda mais o dinheiro, com­parado ao esterco do asno; e, com novos exemplos, diariamente eram animados a desprezar sempre mais o dinheiro.

 

Reflexão:

 

O autor do texto trata de um dos temas muito citados quando se fala de São Francisco. A ideia de que o dinheiro é semelhante ao esterco reflete várias reflexões do Evangelho, entre elas a de Lucas 12, 13-21, que deixa claro que o dinheiro e sua cobiça são armadilhas que impedem o acesso à verdadeira riqueza, ser rico para com Deus.

Essa ideia vai além: o esterco tem duas características. A primeira é que é excremento e por isso possui mau cheiro e é sujo. Desse modo, possuí-lo de forma indiscriminada é sujar-se e ser fedorento, ou seja, tornar-se uma pessoa indesejável.

Depois, em um sentido mais profundo, a busca do dinheiro como algo fundamental faz crescer o mal no coração. Pois o esterco é adubo e tem a função de auxiliar no crescimento e fortalecimento das plantas. Por isso, o dinheiro é o adubo que faz crescer a ganância, a indiferença, a injustiça e o ódio, que são frutos do mal, que é simbolizado pelo diabo. É nesse sentido que Francisco fala, sem abandonar o outro.

Vejamos que ele faz um paralelo em que o valor atribuído ao dinheiro e ao esterco deve ser o mesmo. Poderia ter falado excremento, se sua ideia fosse somente atribuir a questão do indesejável, mas o trata também como adubo.

A narrativa, ao colocar Francisco em posição de correção a um frade que tocou no excremento e o fez colocar na boca, é um texto duro que demonstra a seriedade do fundador ao tratar do tema. Se foi realmente isso que aconteceu é difícil mensurar, mas pode ser uma alegoria, a fim de mostrar que ele não aceitava o dinheiro. O texto afirma que isso surtiu efeito no passado e chama a atenção sobre o fato, certamente para trazer o debate sobre como o dinheiro está sendo tratado no momento da escrita.

Por isso, aqueles que seguem a caminhada franciscana devem ver o dinheiro dessa forma. Ele pode ser o esterco, ou adubo de coisas boas, desde que saibamos partilhar e não coloquemos nossa vida em função dele. Além disso, deve ser fruto de nosso trabalho, pois como o Papa Francisco afirmou: “o dinheiro é o esterco do Diabo, que comanda escolhas dos homens quando se torna um ídolo”.

Por último, deveríamos escutar o conselho do livro de Eclesiastes, que nos aconselha dizendo: Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos. (Ecles. 5, 10)

 

Para meditar:

 

1 - Como o dinheiro tem funcionado em nossa vida?

2 - E para a fraternidade, que função tem o dinheiro? Trata-se de algo a ser partilhado na mesa do Senhor ou para acúmulo e detenção de bens?

3 - E quanto à sociedade, qual o tipo de escolhas temos feito na hora de selecionar os nossos representantes? Aderimos a propostas que buscam partilhar os bens e cuidar daqueles que precisam ou a propostas que defendem nossas propriedades e uma sociedade meritocrática?

 

Texto de Jefferson Eduardo dos Santos Machado - Coordenador de Formação da Fraternidade Nossa Senhora Aparecida - Nilópolis (RJ)

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